12 de janeiro de 2011

"Trocando em Miúdos" em Insensato Coração


A novela Insensato Coração da Rede Globo que estreia no dia 17 deste mês, tem direção de núcleo de Dennis Carvalho e a história é escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares.

A trilha sonora de Insensato Coração contará com dois CDs, um com músicas internacionais e outro com músicas nacionais. A música tema da novela será "Só Louco" de Dorival Caymi, e terá Maria Bethânia interpretando "Trocando em Miúdos" de Francis Hime e Chico Buarque. Essa música foi gravada por Francis Himes em 1977 no LP "Passaredo" e por Chico Buarque em 1978. Será pela segunda vez consecutiva que uma novela de Gilberto Braga vai contar com gravação exclusiva de Maria Bethânia em sua trilha sonora. Em 2006, Bethânia interpretou o samba-canção "Sábado em Copacabana" de Dorival Caymmi e Carlos Guinle para a abertura de Paraíso Tropical.


Letra da música:

Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas do amor nos nossos lençois
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite um ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.


Análise literária de Maria Helena Sansão Fontes:

Em "Trocando em miúdos" (1978), o tom arrebatador presente em "Pedaço de mim" cede lugar a uma leve ironia com que se percebe a intenção de encobrir o sentimento de perda. A suposta superação do desconforto gerado pela dissolução do relacionamento amoroso é sintetizada pelo próprio título do poema que se reveste de elementos do cotidiano:

Os elementos representativos da intimidade conjugal revelados pelas expressões "medida do Bonfim"; "disco do Pixinguinha", "As marcas de amor nos nossos lençóis", são dessacralizados através da conotação irônica emprestada por palavras que encobrem a dor contida e velada do eu-emissor: "Aquela esperança de tudo se ajeitar/Pode esquecer/Aquela aliança você pode empenhar/ Ou derreter".

A dor da perda e o temor do descontínuo, que são tratados com intenso dilaceramento nos poemas analisados anteriormente, como "Eu te amo" ou "Pedaço de mim", aqui evidenciam intencional esvazaiamento do pathos, revelando-se apenas em alguns versos em que o teor dramático supera a ironia que tenta encobri-lo: "Mas devo dizer que não vou lhe dar/ O enorme prazer de me ver chorar/ Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago/ Meu peito tão dilacerado".

A última estrofe retoma o tom de intencional desprendimento, e , através do verso "Eu levo a carteira de identidade", há a sutil aceitação da descontinuidade, resgatada com o fim do relacionamento amoroso.

Sem fantasia - Masculino e feminino em Chico Buarque
Maria Helena Sansão Fontes - Editora Graphia, 1999


Abraços,

Fã-clube Grito de Alerta.
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