1 de julho de 2010

Encontro de Damas

Após 32 anos, "Divinas Damas" como denominadas por um jornal, as cantoras Maria Bethânia e D. Ivone Lara se reencontram para relembrarem histórias e como nasceu um dos mais clássicos sambas: "Sonho meu".

Num bate-papo no último sabado, a sambista de 88 anos - que, no dia 11 de agosto, será homenageada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro pelo conjunto da obra durante a entrega dos troféus do Prêmio da Música Brasileira - e a intérprete baiana, de 64, não só relembraram como nasceu "Sonho Meu" como identificaram algumas coincidências em seus trajetos.
Em 1978, Dona Ivone já era um mito entre os sambistas, a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba, desde 1965, quando  ganhara a disputa no Império Serrano com "Os cinco bailes da História do Rio" (em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau), e gravada por gente como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Cristina Buarque e Beth Carvalho. Ela tinha se aposentado no ano anterior como enfermeira - com  especialiação em terapia ocupacional e muitos anos de trabalho com Doutora Nise da Silveira -, e o estrondoso sucesso de "Sonho Meu" nas vozes de Bethânia e Gal Costa lhe abriu muitas portas, incluindo o convite para fazer seu primeiro álbum solo, "Samba, minha verdade, minha raiz", na EMI.

Convocada ao Rio em 1965 por Thereza Aragão para substituir Nara Leão no musical "Opinião", Bethânia esteve muito perto de Dona Ivone nos seus primeiros anos cariocas. Ao lado de Zé Keti e João do Vale, a jovem baiana se apresentava no Teatro Opinião de terça-feira à domingo, enquanto, às segundas, o teatro abrigava concoridas rodas de samba, muitas com a compositora do Império. Bethânia foi a algumas dessas rodas. E, naquele mesmo ano de 1965, pode assistir ao desfile das campeãs. - Nunca me esqueçi, recém-chegada ao Rio, da emoção que foi ver pela primeira vez as escolas de samba cariocas - conta Bethânia. 
E Dona Ivone, uma das autoras do samba, estava lá, comemorando o duplo feito. - Eu lembro que, para esse primeiro ano, fiz uma baiana com muitos adereços, muitos dourados. A fantasia ficou linda e virou um exemplo para as outra baianas - diz, com brilho nos olhos.
Dona Ivone, para depois, questionada sobre o alardeado parentesco entre o samba de roda do Recôncavo Baiano com o carioca, ser taxativa: - São coisas completamente diferentes. O samba do Rio nada a ver com o da Bahia.

Em outro momento no qual seus caminhos se cruzaram, a cantora baiana também conheceu o trabalho de Nise da Silveira. - Estive algumas vezes na casa das Palmeiras, levada por Fauzi Arap (diretor teatral), que também fazia um trabalho de terapia ocupacional através do teatro com os pacientes de Doutora Nise - Conta Bethânia. Dona Ivone relata com prazer essa fascinante experiência, lembrando como a psiquiatria encorajou-a a pegar o cavaquinho e botar os doentes mentais para sambar. - A música tinha um efeito impressionante, gente que praticamente não mais se comunicava, aos poucos, começou a voltar ao convívio.
Muito dessa rica formação desaguou na impressionante obra de Dona Ivone Lara, sambas como "Acreditar", "Alguém me avisou", "Força da imaginação", "Enredo do meu samba", Sorri negro", "Nasci para cantar e sonhar".
- Quando lancei "Sonho meu", ele era tido como um samba romântico, embalou muitas paixões. Mas, no ano seguinte, ao cantá-lo no show do Primeiro de Maio, no Rio-Centro, ganhou um tom político - conta Bethânia, confirmando o quão abrangente é a obra de Dona Ivone Lara.


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